Lembro de como o conheci. Ele era novato no condomínio,
assim como eu. Ele não era muito de conversar, confesso que demorou pra que ele
falasse ao menos um bom dia . Eu
sempre fui muito comunicativa, as vezes até demais, mas sempre fiz amizade
muito rápido, menos com ele. Ele era extremamente fechado, falava apenas o
necessário, vivia calado. Minhas tentativas de aproximação foram todas um
grande fracasso. Até que depois de longos três meses, eu desisti de insistir uma amizade e comecei a falar
apenas bom dia. Porém eu não vou
mentir, eu queria saber mais sobre ele, eu queria entender o porquê dele ser
tão calado, tão fechado para novas amizades. E eu não estava afim dele, eu só
queria saber o motivo dele ser tão caladão. Até que começamos a pegar o mesmo
ônibus para ir ao trabalho e se você pensa que ai que começamos a ser amigos,
está enganado. Ele era muito fechado continuávamos só no velho e chato, bom dia. Mas a vida é uma resenha mesmo,
estava eu de boa na parada esperando o meu ônibus, um calor do inferno, um sol
de torrar o suor e nada do meu ônibus passar, eu já estava ficando impaciente,
até que ele para com o carro na parada e eu que nem uma retardada, fingi que
não vi, paguei de louca mesmo, sou dessas. Mas ai ele me chama e eu fiquei com
uma cara de lesada mesmo.
-Bom dia! –falou ele.
-Bom dia! – falei
-Você quer uma
carona? Estou com o carro da empresa.
Como assim ele falou mais que cinco palavras? Como assim ele
me ofereceu uma carona? Qual era a dele? Eu recusei a carona. Não me xinguem,
eu não aceitei porque eu não vou entrar no carro de um cara que só fala comigo
a mesma coisa todos os dias. Por mais que eu queira conhece-lo ,eu não posso
confiar né? E essa minha atitude fez com
que nem bom dia ele me desse mais ,
pois nós dois passamos a não nos ver. Mas a vida é uma caixinha de surpresas e
mais uma vez surgiu a oportunidade de pegar uma carona com ele e como eu tava
mais que atrasada eu aceitei e cara ele não deu uma palavra até determinado
ponto do caminho. Quando já estávamos no meio do caminho ele encosta o carro e
o desliga, naquele momento eu gelei, o caminho só tinha mato, qualquer lugar
que você olhasse era mato, imaginei logo coisas muito terríveis que ele iria
fazer comigo, mas ai ele encostou a cabeça na direção do carro e começou a
chorar, ele chorava que nem criança.
-Minhas intensões com
você não eram as melhores!
- Não tô entendendo.
-Você entendeu sim.
-Me explica.
- Eu ia fazer tudo
isso que você tava pensando que eu ia fazer.
- Eu não pensei em
nada.
- Você mente mal.
- Por que você ia
fazer isso? – falei colocando minha mão na porta.
- Meus antigos
vizinhos mataram meu pai e minha mãe depois de um estupro.
- E o que eu tenho a
ver com isso?
- Você é a minha
vizinha.
-Não tenho a culpa
pela morte dos seus pais.
- Eu notei agora que
realmente não tem, você é doce.
- Olha, eu acho melhor
você ir ao psicologo.
- Você não sabe como é
ruim carregar a culpa de não ter salvo os seus pais.
- Por que você ia
fazer isso comigo? Acha que fazendo o mesmo que eles você vai se ajudar? Isso
só piora.
Eu ainda fui com ele até o trabalho mas continuem pensando
nele por um tempão. Por mais medo que eu tivesse dele, eu tinha que o ajudar,
então comecei a ser amiga dele, o bom
dia, virou nossas conversas e ensinamentos, passei a ir com ele ao
psicologo, o que durou um bom tempo, porém ele teve um surto e se matou, por um
motivo que morreu com ele.
(- Gabrielle C. Lima)
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