O vizinho.

terça-feira, 1 de setembro de 2015
Lembro de como o conheci. Ele era novato no condomínio, assim como eu. Ele não era muito de conversar, confesso que demorou pra que ele falasse ao menos um bom dia . Eu sempre fui muito comunicativa, as vezes até demais, mas sempre fiz amizade muito rápido, menos com ele. Ele era extremamente fechado, falava apenas o necessário, vivia calado. Minhas tentativas de aproximação foram todas um grande fracasso. Até que depois de longos três meses, eu desisti  de insistir uma amizade e comecei a falar apenas bom dia. Porém eu não vou mentir, eu queria saber mais sobre ele, eu queria entender o porquê dele ser tão calado, tão fechado para novas amizades. E eu não estava afim dele, eu só queria saber o motivo dele ser tão caladão. Até que começamos a pegar o mesmo ônibus para ir ao trabalho e se você pensa que ai que começamos a ser amigos, está enganado. Ele era muito fechado continuávamos só no velho e chato, bom dia. Mas a vida é uma resenha mesmo, estava eu de boa na parada esperando o meu ônibus, um calor do inferno, um sol de torrar o suor e nada do meu ônibus passar, eu já estava ficando impaciente, até que ele para com o carro na parada e eu que nem uma retardada, fingi que não vi, paguei de louca mesmo, sou dessas. Mas ai ele me chama e eu fiquei com uma cara de lesada mesmo.
-Bom dia! –falou ele.
-Bom dia! – falei
-Você quer uma carona?  Estou com o carro da empresa.
Como assim ele falou mais que cinco palavras? Como assim ele me ofereceu uma carona? Qual era a dele? Eu recusei a carona. Não me xinguem, eu não aceitei porque eu não vou entrar no carro de um cara que só fala comigo a mesma coisa todos os dias. Por mais que eu queira conhece-lo ,eu não posso confiar né?  E essa minha atitude fez com que nem bom dia ele me desse mais , pois nós dois passamos a não nos ver. Mas a vida é uma caixinha de surpresas e mais uma vez surgiu a oportunidade de pegar uma carona com ele e como eu tava mais que atrasada eu aceitei e cara ele não deu uma palavra até determinado ponto do caminho. Quando já estávamos no meio do caminho ele encosta o carro e o desliga, naquele momento eu gelei, o caminho só tinha mato, qualquer lugar que você olhasse era mato, imaginei logo coisas muito terríveis que ele iria fazer comigo, mas ai ele encostou a cabeça na direção do carro e começou a chorar, ele chorava que nem criança.
-Minhas intensões com você não eram as melhores!
- Não tô entendendo.
-Você entendeu sim.
-Me explica.
- Eu ia fazer tudo isso que você tava pensando que eu ia fazer.
- Eu não pensei em nada.
- Você mente mal.
- Por que você ia fazer isso? – falei colocando minha mão na porta.
- Meus antigos vizinhos mataram meu pai e minha mãe depois de um estupro.
- E o que eu tenho a ver com isso?
- Você é a minha vizinha.
-Não tenho a culpa pela morte dos seus pais.
- Eu notei agora que realmente não tem, você é doce.
- Olha, eu acho melhor você ir ao psicologo.
- Você não sabe como é ruim carregar a culpa de não ter salvo os seus pais.
- Por que você ia fazer isso comigo? Acha que fazendo o mesmo que eles você vai se ajudar? Isso só piora.
Eu ainda fui com ele até o trabalho mas continuem pensando nele por um tempão. Por mais medo que eu tivesse dele, eu tinha que o ajudar, então comecei a ser amiga dele, o bom dia, virou nossas conversas e ensinamentos, passei a ir com ele ao psicologo, o que durou um bom tempo, porém ele teve um surto e se matou, por um motivo que morreu com ele. 


(- Gabrielle C. Lima)

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