Éramos apenas melhores amigos.

quinta-feira, 2 de abril de 2015
       Primeiro Capitulo    

               Era noite quando liguei para o Miguel, sei que deveria não ligar, mas o que posso fazer se eu o amo? Na boa, não sei nem se é amor, segundo o Ben – meu melhor amigo – o que eu sinto pelo Miguel não é amor, é só uma paixão. Ele acha que sabe o que sinto, só quer ser o psicólogo, sabe tudo de relacionamento, mas nunca namorou ninguém, ás vezes até penso que ele é gay, mas segundo ele me fala, ele só está à espera da garota certa e enquanto ela não chega ele fica com as erradas, totalmente desapegado a qualquer tipo de menina, ela pode ser linda como for ele só fica uma vez com ela. Enfim, eu liguei para o Miguel, mas quem atendeu foi à mãe dele, ela me falou que ele tinha saído com a Camila e tinha deixado o celular carregando, pelo visto foi falar de mim para ela, sabe que ela me odeia mesmo, ou talvez não, ele tenha me esquecido já, foi ele quem acabou comigo mesmo. Só dói saber que ele acabou porque não sentia nada por mim. Sabe aquela dor que você sente que não tem nenhum remédio? Aquela dor que você não sente fisicamente, mas sentimentalmente ela te destrói toda? Aquela que com o tempo diminui, mas com as lembranças pioram? Aquela que se cura com o recomeço? Aquela que só brota de um sentimento? Aquele sentimento... Aquela paixão. Bom, era isso que eu sentia naquele momento. Liguei para o Ben, queria que ele viesse na minha casa, eu não tava bem, precisava de um ombro amigo, mas o Ben estava em uma festa e só me retornou às 4h da manhã.
-Alô. – falei ainda meio sonolenta.
-O que houve? – falou o Ben.
- Quando eu acordar eu te ligo.
-Mas você está acordada!
- Só porque eu estou falando com você, não significa que estou acordada.
- Ta bom, sonâmbula.
-Passa aqui em casa mais tarde. Beijo.
- Tá.
Quando eu acordei, às onze horas, liguei para o Ben, vim na minha casa e o retardado ainda estava dormindo. Como não tinha nada pra fazer já que minha casa estava toda arrumadinha, eu fiquei olhando para o vaso que tinha na janela da cozinha, nunca entendi qual era a ideia daquele vaso ali, mas todos os dias a dona Lúcia, a empregada, colocava ali.
- Vó, a senhora faz um bolo de chocolate pra de tarde? O Ben vem pra cá. – sim, eu a chamava de vó, ela trabalha na minha casa desde que eu era criança e a minha mãe me acostumou a chama-la de vó.
- Faço sim, mas e o Miguel? Ele não tem ciúmes do Ben?
- Nós acabamos ontem.
-Ainda bem! Quer dizer, poxa minha filha eu sei o quanto você gostava dele. – ela não curtia o Miguel – Mas você vai superar e vai aparecer outro menino na sua vida que vai te amar muito e te fazer a pessoa mais feliz desse mundo.
- Vó, não preciso de lição de moral. Não quero escutar essas coisas, porque eu já vou ouvir isso do Ben. Só faz o que eu te pedi.
- Está bem Emma.
Benjamin
- Oi dona Lú, a Emma está? – falei quando ela abriu a porta e me pediu para entrar.
- Está sim meu amor, entre. – falou me dando um beijo na bochecha. – Ela está no quarto, não sai de lá desde a hora do almoço.
- O que houve? – perguntei
- Acabou o namoro, eu sei que isso te deixa feliz, mas da um jeito de não demonstrar isso agora, ela está tão deprimida. – falou a dona Lú.
- Ela te falou o motivo? Eu nunca vou deixar ela perceber que eu gostei desse termino, ele nem combinava com ela. – falei com um sorriso no rosto, a dona Lú sabia que eu era extremamente apaixonado pela Emma, mas só ela sabia.
- Não me falou nada, só disse que acabaram. Meu filho já está na hora de você falar tudo pra ela.
- Não dona Lú, a Emma ainda não sente nada por mim, ela me ver como um irmão, vou esperar o tempo certo, mas enfim vou lá.
- Então tá certo.


Segundo capitulo

Ben
Enquanto ia caminhando em direção ao quarto da Emma, imaginei mil palavras diferentes, nas quais pudessem a ajudar nessa hora, mas tudo que pensei era extramente clichê e sem nexo.
-Emma? – chamei batendo na porta do seu quarto.
- Pode entrar. – respondeu.
Naquela hora, bateu o nervosismo, eu não poderia falar para ela tudo o que eu estava pensando, imagina como seria difícil para ela ouvi do seu melhor amigo “Emma, ele foi homem de ter acabado com você, ele nem te amava e todos já tinham percebido isso.”, mas como eu penso muito antes de falar algo e sempre sai merda, deixei as palavras saírem sozinhas da minha boca.
- A dona Lú me contou que vocês acabaram e eu acredito que foi ele quem acabou com você.
- Nossa como você conhece as pessoas. – falou a Emma com uma voz grossa e chorosa.
- Um bom psicólogo observa antes de falar. – falei me aproximando dela, que estava sentada no chão olhando pela janela, nunca entendi o motivo dela ficar olhando pela janela, que era extremante baixa, a vista que ela tinha nem era bonita. A janela era de frente para uma parede onde tinha uma bicicleta antiga - que nunca foi usada - e vários entulhos que ela juntava, mas que não serviam para nada.
- Você ainda não é um psicólogo formado, é só um enxerido que dá ótimos conselhos. – falou me olhando com os olhos cheios de lagrimas e um sorriso verdadeiro aleatório e ver aquele sorriso em meio à dor me fez muito bem.
- Pode me contar o que houve logo, ou vai ficar me enrolando com piadinhas? – perguntei sentando ao seu lado.
Emma
-Há algum tempo ele vinha mudando de atitudes comigo, não ligava sempre, não marcava pra sair, ficava me evitando, até que ele passou a vim com umas conversas estranhas de que não sabia o que sentia, na real, eu sempre soube que ele não me amava, mas tentava mentir pra mim mesma, já que eu o amo tanto, ou não, nem sei se é amor, dizem que o amor te faz feliz, mas o meu amor só me traz dor. – falei encostando minha cabeça no ombro do Ben que colocou o braço por cima do meu ombro e encostando-se à parede, já não estávamos mais olhando para os meus entulhos e sim olhando para a minha cama que estava completamente bagunçada.
- Na boa, tu achas que isso é amor mesmo? Pensei em mil palavras pra te falar pequena, mas não acho que o que tu precisa agora é de palavras boazinhas, tu precisa que te falem a verdade pra que tu cresças em cima disso. Emma, eu te conheço à dez anos sei de todos os teus sentimentos, sei mais sobre você do que a sua própria mãe, já te vi assim antes várias e várias vezes, você não consegue esconder nenhum sentimento meu e tá na cara que você não ama aquele moleque, sim é isso que ele é, um moleque. Pequena acorda isso é só uma paixão, vai passar.
- Eu não preciso que você me fale se é amor ou paixão Benjamin, eu não quero saber disso. Eu preciso de um amigo que me diga palavras que me façam se sentir bem, que entenda a minha dor e não uma pessoa que me jogue na cara tudo o que eu já sei, eu sei que é só uma paixão, mas está doendo, você nunca vai entender isso, nunca vai entender o que eu estou passando, a dor que estou sentindo porque você é muito racionalista e eu sou muito sentimental, você olha tudo com a razão e eu me entrego no sentimento.
- Emma, me desculpe, é que eu já te disse que se jogar de mais só te faz quebrar a cara. – falou o Ben me olhando no fundo os olhos. – Pequena, o Miguel é um idiota, ele só quis namorar contigo porque ele é do tipo de cara que não consegue ficar sem mina, mostra pra ele que tu és pior que ele, ficar ai chorando não vai melhorar teu sentimental, vai te deixar pior, levanta se arruma e sai, finge que tá cagando para ele, mesmo você estando totalmente quebrada. Emma, junta esses cacos do teu coração e reconstrói o muro dele, pra que não exista próxima vez, mas deixa uma brechinha no muro, pra que o próximo guri que entrar te ensinar o que é amar de verdade. – falou o Ben, levantando e me puxando junto, eu juro que eu queria fazer tudo àquilo que ele disse, mas eu não conseguia, eu não tinha mais vontade de fazer nada além de chorar e chorar.
- Ben, eu não consigo fazer isso, essa menina não sou eu. Eu quero chorar muito, assistir filmes tristes, chorar mais, comer muito chocolate.
- E ficar uma bola? Cheia de espinhas? Ficar com a saúde lá em baixo? Cresce guria! Arruma-se ai que nós vamos sair.
- Eu não vou a lugar nenhum. – falei enxugando minhas lágrimas.


- Ahhhh, você vai sim, vou te esperar lá na cozinha. Não demore! – falou o Ben saindo pela porta. 


Terceiro Capítulo



Ben
Odiava ver a Emma daquele jeito, ficava sem saber o que fazer, por isso que a chamei pra sair, acho que na rua ela não iria chorar e seria mais uma forma de distraí-la. Além disso, a Emma é extremamente forte, ela diz que só quer chorar, mas ela é o tipo que chora tudo o que tiver de chorar em um dia.
- E ai? Como ela está? – perguntou a Dona Lú.
- Bom... Ela está mal, porém vou a levar na praia, ou em algum lugar onde ela possa esquecer um pouco desse guri, vou tentar não conversar sobre ele.
- Isso é ótimo! Só não a leve para o shopping, nem a soverteria. Ela ia muito com ele nesses lugares.  
- A senhora acha que a Emma gostava mesmo do Miguel, tipo... Amor?
-Olha Ben... A Emma era muito apaixonada pelo Miguel, mas eu acho que amor não é a palavra certa pra o sentimento dela, vamos deixar o tempo passar, pra ver se é amor ou apenas uma paixão. Não vamos julgar certo?
-Eu já disse pra ela o que eu acho. Eu sei que foi errado, mas eu não curto esconder a verdade da Emma.
- Você também não precisa jogar tudo na cara dela Ben, ela está sofrendo e você é a pessoa em que ela mais quer que a ajude, então esqueça essa sua racionalidade e passe a agir com mais sentimento. Ou você quer perder a sua amiga?
- Não quero perder ninguém. Mas eu vou ser mais sentimental. Prometo.

Emma
Enquanto o Ben estava na cozinha com a vó, eu tirei um tempo pra pensar na vida, liguei meu computador e fui ler um pouco dos textos da minha escritora favorita Rayane Santana, na boa, sempre me identifico com os textos dela, são os melhores. Às vezes parece que ela sabe o que eu sinto e só passa isso para o blog.
Eu evitei por dias escrever sobre você, e sobre você mesmo, não vou negar não. Mas eu precisava desabafar, e meu jeito é assim escrevendo.
Por quê? Porque você foi embora? Como assim não sente nada? Caraca, às vezes é inacreditável. Não sei se você sabe mais se fosse possível eu moveria montanhas por ti, entretanto a sua escolha foi totalmente diferente, você preferiu ir embora. Encantou-se por outro alguém assim que partiu, ou partiu por ter se encantado por ela. De que me importa? O que eu tenho a ver com isso? Nada. Eu acabei me decepcionando com você, com algumas atitudes, talvez seja só uma “paixão intensa” como foi dito, talvez não. Na nossa historia sempre existiram tantos “talvez”, ouve até um dezembro. Tudo no passado mesmo acabou.
Sei lá, você faz falta. Talvez seja errado ainda te querer e daí? Continuo te querendo. Obrigada por ser uma das minhas lembranças mais bonitas, eu só não conseguir alcançar o meu objetivo, que era ser o motivo de teu sorriso, eu sei que o amor não rima, mas, eles formam um par, nós não formamos. Eu sinto saudades, do que nunca tivemos, das horas que passávamos conversando, das vezes que saímos, dos seus poucos abraços, da maneira com a qual você me chamava como fazia com que eu me sentisse importante, como fazia com que eu me sentisse amada, eu queria reviver tudo isso de novo. Eu queria que assim como eu você sentisse falta do pouco ou do tudo que tivemos.
Nada pra nós nunca foi fácil, mas como diz o ditado “O amor faz a gente ver arco-íris em céu nublado”. Só você conseguia me deixar boba, sorrindo a toa, sempre de boa e achando que a vida é assim sempre muito boa! E olha só pra mim hoje, totalmente acabada emocionalmente.
Trocaria 12 tardes folgadas, por uma cheia de coisas a fazer com você. E que a nossa história passou a ter muitas vírgulas, foi uma redação que deu fuga total ao tema.
Desculpa. Perdoa todos os meus dramas, todas as minhas palavras clichês, eu queria que ao menos uma vez tudo desse certo, UMA vez, é que essa vez fosse com você, eu só queria que você me amasse, e querer infelizmente não é poder.
Hoje assim como ontem, não é dia de sorrir, eu continuo sorrindo, por teimosia, só pra tentar não dar lugar a tristeza. Tá complicando, a solidão já voltou e arrumou o seu quartinho, ela está refazendo a muralha em torno do meu coração, aquela que você quebrou. A tristeza bate na porta todos os dias, teimosa eu não a deixo entrar, mas ela vai entrar. A depressão mandou uma carta, avisando que já esta a caminho. O orgulho e a razão invadiram tudo e agora são eles que ditam as ordens na maioria das vezes. E mesmo assim eu ainda penso em ti, eu ainda me importo e me preocupo, mesmo que não pareça. Mesmo assim, desculpa por qualquer coisa! Eu só quero que você volte, mas estou me conformando que a sua volta não passa de uma mera ilusão. É como querer chuva no deserto. Todos os dias, eu vou lá à nossa conversa e fico relendo-a , olho a sua foto, e tenho aquela merda de esperanças que você venha conversa comigo, eu fico imaginando se você não faz o mesmo, se também não espera ver um ’escrevendo’, eu faço isso todos os dias.
O coração continua um caco, quase pó, e os pensamentos ainda vão a você!

-Rayane Santana
  
Disse tudo o que eu estava sentindo, é por isso que eu me amarro tanto eu ler os textos dessa mulher. E cada vez mais ia me perdendo nos pensamentos e pensando naquele idiota que resolvi amar.
- A senhorita já está pronta? – grita Ben, do outro lado da porta.
-Não! Vou me arrumar! – gritei abrindo a porta do guarda-roupa.
 Demorei quase nada pra me arrumar, já que eu não estava nem um pouco a fim de sair. Coloquei um vestido soltinho com uma sandália rasteirinha e fiz uma trança em meus cabelos, lavei o rosto e só coloquei uma base e um pó pra não sair com o rosto tão deformado na rua.
- Estou pronta, aonde vamos? –perguntei chegando à cozinha.
- Não sei. Só andar por ai... – respondeu o Ben.
- Vão logo, antes que fique tarde. – Falou a vó.
- Realmente, vamos logo antes que eu desista. E não vou levar bolsa, nem dinheiro, nem celular. Se eu precisar de algo o Ben resolve.
- Virei banco? Orelhão?
- Se reclamar eu não vou mais. – resmunguei 
-Vish! Que animação. - falou o Ben. 

Quarto Capítulo   


Ben
 Levei a Emma ao circo, estranho não é? Mas como eu sei que ela gosta de circo, achei que a levando nele, ela ficaria mais feliz. Acertei, em ter a levado, ela sorriu bastante, embora quando estávamos chegando perto de casa ela foi desaminando, então durante toda aquela semana, nós saímos. A cada dia era um local diferente, até porque a cada dia a dor vai cicatrizando.  A Emma sempre foi uma menina muito agitada, porém muito doce. Ela valoriza o momento, mas se importa muito com palavras, ela busca agradar a quem ela gosta, então se ela não gosta de alguém ela o ignora bastante. Ela é do tipo que defende quem ama até o ultimo minuto e se mesmo assim a pessoa estiver errada, ela não abandona, nem julga, só entende e aconselha. Quando magoada, ela apenas se isola, não gosta de conversar, mas curte quem respeita o momento de dor dela, procura se recuperar o mais rápido possível e assim que se recupera, volta a fazer tudo de novo, pois ela gosta de viver momentos bons várias vezes seguidas, mesmo sabendo que pode dar errado futuramente. No final daquela semana a Emma já estava mais recuperada, já não falava mais no Miguel, nem o evitava, ela tem um dom de perdoar muito fácil as pessoas, você pode magoa-la e ela ficar triste na hora, mas com o passar do tempo ela te perdoa, mas não volta a ser amiga como antes.
 Emma                                                                                                                                                                                              Era sábado à tarde, uma semana passou e a minha raiva pelo Miguel foi sumindo a cada dia. Não tá sendo fácil esquecer ele, porém botei na minha cabeça que nem tudo o que quero posso ter, então... Bola pra frente, talvez ele não seja realmente o meu grande amor, como pensava. Resolvi sair, da uma volta por ai, o Ben tinha ido visitar a avó dele e não podia sair comigo, já boa parte das minhas amigas namoram e só saem com os namorados, decidir ir da uma volta sozinha.
Enquanto caminhava pelo calçadão e sentia a brisa do mar bater em meu rosto, pensava no quanto eu era feliz de ter aquela minha vida. Eu tinha uma empregada, que era uma mãe pra mim, tinha uma mãe bem ocupada, mas que sempre que podia, tirava um tempo pra ficar comigo, meu pai eu não conhecia, mas isso nem era um problema, minha mãe por si só dava conta de tudo e sempre sorrindo, embora eu soubesse que nem sempre ela está feliz.  
- Quanto custa à água de coco? – perguntei
- Três conto, moça! – respondeu um senhor magro e sorridente.
- Vou querer a mais gelada que o senhor tiver! - falei
- Também quero uma, tio! –falou um rapaz chegando ao quiosque.
- Aqui a coco de seis dois. – falou o senhor, entregando a coco para mim e para o rapaz ao lado, paguei e me despedi do senhor.
Caminhei mais um pouco e resolvi voltar, eu perco a total noção do tempo quando estou caminhando, como não levei celular, eu não sabia a hora, só sabia que já estava anoitecendo.
- Moço, o senhor pode me informar que horas são, por favor? – perguntei pra um rapaz que estava admirando o mar.
- São 17:23! – falou olhando para o relógio – Nossa é você?
- Sou eu!... Pera... Sou eu o que? – perguntei surpresa
- A mina do coco.
- Não vendo coco.
- Eu sei, falei isso porque te vi lá e não faz muito tempo.
- Ahhh... Foi... Não te reconheci, porque não olhei pra você.
- Realmente. Como devo chama-la? – perguntou
- Emma! Prazer! – falei
- Sou o Marcelo. Você vem sempre aqui?
- Não e mesmo se viesse não iria te falar, eu em. Nem te conheço. Tchau!
- Nossa, alem de linda é esquentadinha. Não precisa se preocupar, eu não sou um sequestrador, se é isso que você pensou.                                                                                                                                                                                                                     – Não pensei nada, tchau Marcelo. – falei saindo, eu em nem conhecia o menino e ele já foi perguntando se eu venho sempre aqui, vai que ele me sequestre.       
- Tchau esquentadinha! – gritou enquanto eu andava rápido e sem olhar para trás, embora eu quisesse olhar novamente para aqueles olhos claros e perfeitos, ele era tão lindinho, mas minha vó sempre disse que nunca confie em alguém que você não conhece.  

 Quinto Capítulo

Emma


No outro dia voltei à orla, porém dessa vez fui pelo lado oposto, queria andar, conhecer novas pessoas e também não queria encontrar com o guri do dia anterior, mas o clima tava tão agradável que decidi da um mergulho, na boa, aquela brisa tava tão perfeita.  Sempre quando estou com algum problema eu gosto de ir à praia, talvez porque me dê calma. Quando mergulho, sinto o mundo parar, meus problemas somem, tudo vira paz, só por uns poucos segundos.
Enquanto caminhava a procura de um lugar vazio para dar um mergulho – sim, eu não gosto de mergulhar por centenas de pessoas ao meu redor, sei lá o porquê, só sei que não me sinto bem- vinham em minha mente todos os momentos que eu e Miguel passamos juntos, todos os abraços, beijos, puxões, até todas as brigas bestas, até os choros vieram na mente, juro que não queria pensar nele, mas era involuntário. Por mais que eu quisesse pensar em outras coisas, a única coisa que passava na minha cabeça era que o Miguel acabou comigo.
Demorou até eu achar um lugar vazio para mergulhar, não estava totalmente vazio, mas quase não tinha pessoas. Quando entrei no mar, perdi a total noção da hora, já era escuro e eu ainda estava no mar.
-Frio!Frio! Frio!Frio! Frio! – sussurrei enquanto saía do mar e ia em direção as minhas coisas, que estavam jogadas na areia.
Quando cheguei em casa decidi ligar para o Ben, o chato tava me fazendo uma falta enorme.
- Alô? –uma voz fina falou
-O Ben está? Aqui é a Emma!
- Oi Emma. Ele está no banho.
- Quem ta falando?  - perguntei.
- A Débora.
-Ahhh!
- Enfim, quando ele sair peço pra ele te ligar, tchau!
-Tchau.
É, até que o Ben está fazendo algo melhor que eu né. Acho que essa mina deve ser parente dele, ou não né. O Ben pega mais meninas que o Jeff, um famosinho da minha escola. Já que o Ben estava ocupado decidi me ocupar também.
- Vó,vou ali! – falei abrindo a porta da sala
- Ali? Aonde? – perguntou
- Na biblioteca, to afim de ler algo.   

obs: esse capítulo ficou curtinho, mas vou recompensar no próximo meus amores, espero que gostem. 



Sexto Capítulo

Emma

Era mais ou menos uma oito da noite quando sai de casa, ainda bem que perto da minha casa tem uma biblioteca que fecha tarde. Ler e escrever pra mim é como me afogar, mas eu me afogo e não peço socorro, porque é prazeroso.
Enquanto andava pelas ruas frias da cidade fiquei imaginando quem era Débora e o porquê do Ben não ter me ligado ainda. Era estranho isso, toda vez que eu ligo pra o Ben e ele não atendia, depois ele retornava, mas ele nem ligou pra mim de novo. Talvez ele estivesse namorando aquela Débora, ou sei lá, ela não deu o recado.  Juro que fiquei com vontade de ligar novamente, mas não quis atrapalhar né.
Avistei a biblioteca do outro lado da rua, era um prédio velho, porém sofisticado. A biblioteca tinha um clima de século passado, mas era só a decoração que “lembrava coisas de velho”, o local em si era muito aconchegante e fofo. A porta era de  alumínio quando abri fez aquele barulho de porta antiga, ainda bem que não tinha ninguém, se não seria lixada. Quando entrei fiquei maravilhada, era parecia ser tão simples por fora, mas era um mundo por dentro, tinha livro de tudo, tinha várias e várias revistas, tinha mesas com várias coisinhas em cima, computadores, impressoras, vasos, sofás, poltronas, televisão. Lá no fundo da biblioteca tinha uma recepção, e do outro lado da parede um lugar com comida, tipo uma lanchonete, achei estranho isso de comida com livros, mas é um lugar mega legal.
Enquanto procurava um livro ficava lembrando-me do Miguel, isso é chato, mas eu só pensava nele, o tempo todo, eu sei que isso é idiota mais o que posso fazer?  Até que achei um livro que o título me chamou atenção: “Antes de tudo acabar”. O título do livro já me fez pensar mais ainda nele e nos nossos momentos. Quando abri o livro o primeiro parágrafo já me prendeu ainda mais ao livro, nele estava escrito “Para todos aqueles que têm dúvidas. Para as perguntas sem respostas e para as duvidas respondidas”.  Mas parei ali mesmo, peguei meu celular e abri na galeria, me sentei no chão encostei-me à estante repleta de livros, novamente peguei meu celular e comecei a excluir muitas coisas que me faziam lembrar-se do Miguel. Apaguei algumas fotos que não tinha apagado algumas músicas, textos, mensagens, tudo o que me fazia automaticamente me lembrar dele, eu apaguei. Não entendi o motivo daquilo, mas só me deu vontade, naquele momento, de fazer aquilo.
- Fim de namoro? – falou uma voz grossa, porém uma voz conhecida. Não olhei de imediato, virei à cabeça e olhei para o lado, discretamente, não vi ninguém na biblioteca além da minha pessoa e de pés do meu lado, sapatos de homem.
-Sim. – respondi ainda olhando para o lado.
-Não acha que vai ter volta?
- Não vai ter. Fui muito burra de namorar esse garoto.
- A paixão faz isso.
- Isso o que? Magoa? Machuca? Maltrata? – falei baixinho e dando intervalo entre uma palavra e a outra.
- Ela te deixa no mundo da lua.
- Você é especialista nisso? – perguntei levantando minha cabeça e olhando pra frente.
- Sou acostumado a me apaixonar por erros. – falou ele. Senti quando ele se abaixou e ficou de cócoras do meu lado. – Mas sabe?... Esses meus erros me fizeram crescer muito. Talvez você possa ver o lado positivo desse termino.
- Você está me pedindo pra ver o lado bom da dor? – perguntei me virando e falando com um tom de voz mais rude.  Mas quando virei para olha o garoto, eu simplesmente não me controlei. – Você??? – perguntei surpresa.
- Oi bonitinha da praia. – falou ele com um sorriso de lado. Sim, ele era o menino da praia.
- O que você faz aqui? – perguntei ainda surpresa.
- Trabalho aqui. – falou sorrindo. Então ficamos calados por um tempo. – Então... Respondendo a sua pergunta... A dor sempre tem um lado positivo.
- Eu não acho.
- Então ta bom... Não vou te obrigar a pensar como penso... Mas... Acho que você não deveria ta conversando comigo.
- Por quê?
- Porque você foi ensinada a não falar com estranhos lembra? E tecnicamente é isso que sou. – falou soltando um sorriso
- Você costuma ser babaca assim mesmo? Ou está só se fazendo?
- Costumo competir com a pessoa quando converso com ela.
- Você está me chamando de babaca?
- E se estivesse?
- Se você estivesse eu diria que teria aprendido com você.
- Então você é desse tipo de menina?
- Que tipo?
- Do tipo que se perde nas respostas quando fica com vergonha. – falou olhando bem no fundo dos meus olhos. Naquele momento eu fiquei completamente sem graça, e por mais um momento ficamos calados ali.
- É.. – falei me levantando, colocando meu celular no bolso e fechando o livro. – posso levar? – perguntei.
- Não! – respondeu bem grosso – pra você, vai ter que vim ler aqui. – falou sorrindo e se levantando também.
- hahaha! Você é muito engraçado! – falei ironicamente.
- Estava brincando.  Você pode levar o livro, tem três dias pra devolver ta certo? – falou indo em direção a recepção. – você só tem que assinar esse formulário aqui, pra segurança do livro.
- Vocês deixam as pessoas levarem os livros pra casa mesmo?  Pensei que você estava brincando. – falei chegando perto do balcão.
- Nós não deixamos, mas coloco como se fosse eu que tivesse pegado, ai meu pai não reclama.
- Seu pai é o gerente? – falei  já assinando o papel
- O dono. –respondeu.
- Mas... Porque eu estou respondendo esse formulário? – perguntei.
- Porque eu quero ficar pra mim, só assim vou saber seu número e onde você mora.
- Não coloquei onde moro.
- Não tem problemas, eu vou descobrir quando nós começarmos a namorar. – falou se aproximando de mim
- Para de me xavecar e volta a ser aquele intelectual que tava me ensinando que a dor tem um lado positivo.
- Prefiro ser os dois, cada um no seu momento, pra mostrar pra você que não sou esse idiota que você acha que sou. – falou sorrindo de lado.
- E eu prefiro que você se cale.
- Também prefiro que você se cale, então já podemos resolver isso.
- Tchau! – falei pegando o livro, me virando e indo em direção à porta.

- Tchau, até daqui a três dias, quando você vier devolver o livro.  – gritou o garoto.


Sétimo capítulo.

Ben
Já fazia cinco dias que eu estava na casa da minha avó. Não vou mentir se disser que não estou com saudades da Emma, mas eu não estava com muito tempo pra falar com ela. Acho que até foi bom eu vim passar uns dias aqui na casa da minha avó. Minha avó mora no interior da cidade, onde o sinal da internet pega quando quer e o sinal do celular pega com dificuldade, por isso eu resolvi unir o útil ao agradável. Já que estou em um lugar onde o sinal é ruim, vou aproveitar o lugar.
Por diversas vezes quando a noite chegava, eu olhava para as estrelas e sentia uma enorme vontade de ligar para Emma, mas eu me segurava. Não estava fugindo dela, estava apenas tentando me desligar um pouco desses meus pensamentos, mas na verdade eu estava mentindo para mim, porque eu só pensava nela, em esquecer ela e em perceber que não estava adiantando. Parece que quanto mais você tenta esquecer, mais você lembra. Acho que é porque você se preocupa tanto em esquecer a pessoa que você se prende mais a ela.
-Oi! – falou à Débora – Quer café? –falou em pé, com duas xícaras de café, uma em cada mão.
A Débora é a filha da Marlene, a mulher que cuida da minha avó. Ela tem quinze anos e somos amigos desde à infância, ela namorou o meu primo João, moleque sortudo, na boa a Débora era muito gostosa, além de ser mega simpática.
-Sim! – falei esticando o meu braço
- Cuidado! Tá super quente! – falou tocando na xícara com a ponta dos dedos.
-Você sumiu hoje à tarde. O que houve?
- Estava estudando, tenho prova de Geografia e não entendo muito bem a matéria. – falou puxando uma cadeira e sentando ao meu lado. Estávamos sentados no terraço do casarão, olhando para um matagal, coberto por um céu cheio de estrelas, completamente incomodados com os mosquitos.
- Mas você conseguiu aprender?
-Um pouco. – falou olhando fixamente para as arvores e colocando a xícara quente em seus lábios.
-Você não tem medo? – perguntei
-Medo de que? – perguntou ainda olhando fixamente.
-De ficar olhando pra mata.
- O que tem de ruim em olhar as árvores?
-Pode sair algo de lá!
- Mas você está olhando lá, assim como eu!
- Não! Eu estou olhando para o céu. – falei e naquele momento ela entrou em gargalhada, eu não entendi o motivo daquelas gargalhadas histéricas – O que foi?
- Meu Deus como tu é medroso. –falou ainda rindo
- Não sou medroso, só não curto ficar olhando pra essas árvores.
- Sabia que já mataram pessoas ai? Minha mãe diz que eram da mesma família, mas mexeram com o Zeca e o Zeca não perdoa ninguém. – falou ainda olhando fixamente – Dizem que as almas andam por ai, vagando... sem rumo.. – falou virando a cabeça e me olhando bem no fundo dos olhos. – Bu! – gritou
- Ai! – falei com os olhos arregalados, e com o coração acelerado, lógico que tive susto, uma coisa que eu não curtia era esses bagulho de alma.  – que susto!
- Não acredito que você acreditou nessa bobagem.
- Mano, cala boca!
-HAHA! Medroso! – falou levantando-se.
- Pra onde é que você vai? – perguntei,
- Vou dormir!
- Não, fica aqui!
- Amanhã eu acordo cedo.
- Mas eu estou com medo de ficar aqui sozinho.
- Não posso fazer nada por você.
- Você pode sim, ficar aqui... dormir comigo..
- Não. Vou indo tchau.
- Boa noite então. – falei me levantando também, embora eu não estivesse com sono, ali eu não ficaria.
                                                                       ...
-Bom dia! – fala a Débora abrindo as cortinas do quarto, o barulho delas me deixava agoniado.
- Que horas são? – perguntei ainda com os olhos fechados.
- Onze e quarenta! Levanta vagabundo, o dia tá lindo, olha esse sol!
- Estou vendo! Tá queimando minha cara. – falei virando contra a janela, ainda com os olhos fechados.
- Não sabia que você conseguia ver sem abrir os olhos, que legal. Depois me ensina.
- Te ensino se você me der um beijo.
- Então esquece, eu aprendo sozinha.  –falou a Débora. E por um momento o quarto ficou em silêncio, o que me fez apagar novamente. – Levanta vagabundo! falou a Débora calmamente jogando um balde de água gelado em cima de mim.
- Tá louca? –gritei enxugando o rosto.
- Eu sou louca.




CONTINUA...