Uma luz em meio à escuridão.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Primeiro capitulo

       Eu estava à beira da morte, na verdade eu não tinha medo algum de morrer, afinal a morte não dói, o que dói são as dores que sentimos antes dela, até porque a morte é extremamente calma. Eu estava com problemas no trabalho, minha esposa tinha falecido há vinte e cinco semanas em um acidente de carro por minha culpa - se eu não tivesse discutido com ela, ela não teria saído dirigindo na chuva para um hotel e não teria batido de frente com uma carreta -. Eu já não via mais cor no meu mundo, era tudo tão preto e branco, eu via os jovens andando na praça e sorrindo por nada, crianças correndo atrás de cachorros que fugiam por medo, eu via idosos sentados nos bancos conversando e jogando comida para os pássaros, via famílias inteiras fazendo piqueniques ao por do sol e eu ali olhando tudo com o olhar sombrio de quem sentia inveja de tudo aquilo. Eu nunca fui próximo da minha família, só tenho um irmão mais novo que morava na Itália, meus pais já aviam falecido e o resto dos meus parentes estava espalhado pelo mundo – minha família nunca foi unida-.
       Todos os meus dias eu ia naquela praça, só pra ver o sorrido das pessoas e quando alguém falava comigo eu não respondia e ia embora, não queria criar um vinculo de amizade com ninguém, não queria me magoar mais. Então tomei a decisão, tinha chegado há minha hora, afinal ninguém se importava comigo, não tinha amigos e pode-se dizer que família também não.  Vesti-me como de quem iria trabalhar normalmente de terno, gravatá, etc. Peguei minha pasta e fui de carro até o viaduto principal da cidade, subi em uma barra de ferro, que ficava colada no murinho de proteção do viaduto, me apoiei e sentei no murinho, depois eu fiquei de pé e passei para a barra de ferro do lado de fora do viaduto. Eu estava decidido a pular, na minha cabeça passava um filme da minha vida, mas só passava as cenas ruins, as cenas em que mais sofri: como a cena que eu vi minha esposa toda cortada e presa nas ferragens do caminhão.  Comecei a chorar e quando soltei uma mão do murinho, quando  uma voz bem doce grita “-Não faça isso!” coloquei minha mão de volta no murinho, mas não olhei pra trás. Aguardei uns 5 minutos e do nada tudo ficou silencio, eu olhava para o lago e era como se tudo parasse, o viaduto subisse e o lago descesse e cada vez eu via o lago mais longe do viaduto, então olhei para o céu, estava um dia muito lindo pra morrer, não estava chovendo, mas o clima estava agradável.  Então tomei coragem e soltei novamente a mão, e novamente eu escuto: “-Não faça isso!”.  Tomei coragem e olhei para trás, era uma garotinha, aparentemente tinha uns nove anos, estava completamente suja, tinha os cabelos bem loiros, presos com um pedaço de pano branco, que já não estava branco, estava com roupas sujas e rasgadas. Ela veio em minha direção e tocou na minha mão, novamente dizendo: “-Não faça isso!”.

Segundo capitulo 

-Se afaste! – pedi. – Você não entende.
-Vem aqui! Eu realmente não te entendo. Quer me explicar? – perguntou a menina.
-Não! Vá embora!
-Não precisa fazer isso! A solidão é uma fase. – falou, vindo em minha direção. – A vida nem sempre nos dá aquilo que queremos. Ela nos dá o que realmente precisamos.
-Qual a sua idade e o seu nome? – perguntei.
-Tenho dez anos e meio e o meu nome é Carol. – respondeu sorrindo. – Você não precisa desistir da vida por causa de um sufoco só que você está passando.
- Você é só uma garotinha. Você não entende os problemas dos adultos.  Por favor, se afaste!
- Realmente eu não entendo. – Falou a garotinha encostando seus dedos em minha mão. – Me explique! Mas antes saia daí, vamos sentar ali naquele banco. – falou apontando para o banco com a outra mão. E naquele momento por algum motivo eu resolvi seguir aquela garota, e contei tudo pra ela sobre o aperto que tava a minha vida.
-... Enfim, minha vida se resume nisso. – expliquei toda a história a ela.
- Eu fui adotada. Meus pais adotivos morreram num acidente, moro na rua desde os oito anos.  A minha vida nunca foi fácil, o irmão do meu pai adotivo me aliciava. Quando meus pais morreram nessa cidade, eu resolvi fugir. Se eu voltasse pra casa eu iria ficar com meu tio, pois ele era a única família que eu tinha, até hoje eu ando pelas ruas da cidade e durmo onde é mais ou menos aconchegante, como quando alguém me da uma comida  e choro quando acho que um dia tudo pode mudar, mas eu nunca pensei na morte, porque acredito que a solidão é só uma fase.
- Mas você é linda! É impossível alguém não querer te levar pra casa!
- O mundo hoje nem olha mais para os lados, as pessoas passam e nem olham pra mim, me dão moedas, mas não olham no meu rosto, olha para as telinhas dos celulares. Às vezes eu venho aqui no parque só pra ver essas famílias reunidas, sonhando um dia em formar a minha. Eu não desisto do meu sonho, porque eu sei que um dia eu vou realizado.
-Carol, você é tão forte e sonhadora. Queria ter essa força.
-Você tem essa força, você é um cara incrível. Acredite no profissional que você é! Cresça nisso e construa a sua nova família. Não jogue tudo fora por causa da solidão. Lembre-se a solidão é só uma fase. Vá pra casa descanse e amanhã comece a sua nova vida. 

- Carol, você foi a minha luz em meio ao preto e branco e com toda certeza você vai fazer parte da minha nova vida.
    A Carol foi muito mais do que uma garotinha linda que me deu uma lição de vida. Ela foi a menina que me deu uma nova primeira pagina de vida, ela me ensinou a pensar no amanhã e esquecer o ontem, ela me mostrou que o sonho é a maior motivação de vida, ela me ensinou novamente a amar e se hoje eu estou vivo é por causa dela, por isso eu te digo que se você pensa em desistir da vida, lembre-se que a solidão é só uma fase e o amanhã é um novo despertar. 

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